Moderação e radicalismo
Numa sociedade equilibrada, os moderados colocam suas diferenças de lado, se aproximam, negociam, se comprometem, geram um mínimo consenso para o bem comum. O nome disso é política.
DEMOCRACIAHISTÓRIAPOLÍTICA
Alexandre Assis
3/5/20222 min ler


Numa sociedade equilibrada, os moderados colocam suas diferenças de lado, se aproximam, negociam, se comprometem, geram um mínimo consenso para o bem comum. O nome disso é política. É democracia. Já os radicais – estes serão sempre radicais. A tendência é que se afastem do centro, se recusem a negociar e nunca estejam de acordo com nada que não seja sua própria ideologia, qual seja.
Já numa sociedade doente, os moderados começam a se desentender mais seriamente, não atingem consenso, se afastam, e se aproximam dos radicais. A sociedade se polariza e aquilo que eles abominavam nos radicais passa a ser um ‘mal menor’ em função de um suposto ‘inimigo comum’ (o outro polo do espectro político), a fim de obter um suposto ‘bem maior’. Ou ainda, em outras palavras, “os fins justificam os meios”, a filosofia mais doentia que neste momento qualquer um poderia escolher adotar.
Foi assim no período pós-64. Após revolução e golpe, em vez de se articularem em favor da democracia, a esquerda moderada tentava dialogar, sem sucesso, com radicais comunistas que pregavam a luta armada. Já a direita moderada fingia não saber de nada, enquanto os radicais de direita junto aos militares faziam a festa, com cada vez mais requintes de crueldade, exercitando também seu sadismo pessoal e institucional.
Mais recentemente quem estava fazendo a festa eram os saqueadores da República. Quem fazia vistas grossas eram os moderados da esquerda, considerando tudo como o preço a se pagar por um projeto de país.
E foi a vez de os moderados da direita se aproximarem dos radicais religiosos, militaristas e conservadores, que estavam dormindo e tendo pesadelos, acumulando seus ódios e fobias.
Agora, aparentemente, com a anuência dos moderados de direita, nos voltaremos à ala mais radical da direita conservadora. Arrisco dizer que os moderados de direita que se afastam do centro e se aliam aos radicais conservadores sabem muito bem onde estão se metendo e onde esta história pode, potencialmente, parar…
Quanto tempo durará este ciclo? Será que algum dia conseguiremos nos livrar do pensamento radical e engrossar as fileiras da moderação?
Tristes tempos em que o bom senso tirou férias prolongadas.